domingo, 26 de outubro de 2008

"Bonjour Tristesse", Françoise Sagan

Françoise Sagan iniciou a sua carreira de escritora com este breve romance escrito aos 18 anos no Verão em que viu frustrados os seus esforços para entrar na conceituada Sorbonne.

Este pequeno livro com uma prosa contida, seca e quase austera, segue os passos de um pai e de uma filha que numas férias de Verão. A visão da realidade que nos é dada através da visão destes personagens é dura e por vezes mesmo cruel nos jogos emocionais que vão fazendo com as pessoas que cruzam o seu caminho.

Pela noite dentro, falámos do amor, das suas complicações. Aos olhos de meu pai elas eram imaginárias. Recusava sistematicamente as noções de fidelidade, de seriedade, de compromisso. Explicava-me que elas eram arbitrárias, estéreis.

Este pequeno livro de Françoise Sagan viria a ser passado para filme e a marcar o início de uma carreira que foi longa e muito próspera, deixando aos seus leitores uma vasta bibliografia.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Os Cadernos de Dom Rigoberto", Mario Vargas Llosa

Este é um livro escrito a várias vozes, desde Fonchito o filho de Dom Rogoberto a Lucrécia, a sua madrasta. Fonchito o menino que acredita ser a reencarnação do pintor Egon Schíele e que provoca a separação do seu pai e da sua madrasta para depois passar grande parte do livro a tentar reaproximá-los.

As cartas trocadas entre Dom Rigoberto e Dona Lucrécia reflectem uma carga erótica que Vargas Llosa conduz com mestria. 

São quatro da manhã, Lucrécia querida, pensou Dom Rigoberto. Como quase todos os dias tinha acordado na lôgreba humidade do amanhecer para celebrar o rito que repetia cacofonicamente desde que Dona Lucrécoa tinha ido viver para o Olivar de San Iaiseo: sonhar acordado, criar e recriar a sua mulher ao conjuro daqueles cadernos onde os seus fantasmas hibernavam.

A escrita segue o ritmo a que Vargas Llosa habitou os seus leitores e é certamente uma boa escolha de leitura. Não apenas este mas também outros como Tia Julia e o Escrevedor ou Travessuras da Menina Má.

domingo, 12 de outubro de 2008

"O imperador de Portugal", Selma Lagerlof


Esta é a história de um camponês que vive numa recôndita aldeia da Suécia e que depois de ver a sua filha partir para Estocolmo a fim de ganhar dinheiro para pagar uma dívida, acaba mesmo por enlouquecer.
Mas, como se costuma dizer, comecemos pelo início, pelo nascimento de Clara Bela, a filha de Jan Andersson e de Kattrinna de Strolika. Nunca Jan achou que fosse conseguir amar a criança que estava prestes a nascer mas mal a segurou nos braços, tudo mudou.

Logo o seu coração desatou a bater com força - nunca assim batera até então...- e no mesmo instante Jan deixou de sentir frio, os desgostos e as amarguras dissiparam-se, já não se sentia revoltado, tudo estava certo.

Durante toda a infância e adolescência de Clara Bela, Jan considera que não poderia viver felicidade maior, até que chega o fatídico dia da partida de Clara Bela, dois meses antes do prazo limite para o pagamento da dívida. Durante esse tempo, Jan vai diariamente ao embarcadouro, esperando receber Clara Bela. Mas ela não chega. Envia o dinheiro para o pagamento da dívida mas não regressa nessa data nem nos 15 anos seguintes.

Desengane-se quem pensa pelo título que esta história terá alguma ligação ao nosso país. Na verdade a imagem do Imperador de Portugal aqui apresentada é a imagem de Jan, que enlouquecido e perturbado com o não regresso da sua filha, acaba por criar uma fantasia onde assume o papel de Imperador.

Selma Lagerlof foi a primeira mulher a receber o Prémio Nobel da Literatura o que aconteceu em 1909. Com uma vastíssima obra, esta escritora sueca tem uma imaginação fantástica numa escrita impressionantemente acessível

sábado, 4 de outubro de 2008

"Amores Feiticeiros", Tahar Ben Jelloun

Este é um livro de contos que retratam a vivência deste escritor marroquino radicado em França que venceu já o prestigiado prémio literário Gouncourt.
São histórias de amor (e desamor) de encontros e desencontros, de alegrias e tristezas que transportam o leitor para o mundo dos feitiços num contraste com o mundo ocidental tal como o conhecemos.
Mesmo as personagens mais cépticas quanto ao poder das feitiçarias, mezinhas e poções, acabam por se tornar mais crentes face às vicissitudes da vida, que não conseguem ultrapassar com um pensamento ou acções racionais próprio das sociedades modernas.
Invariavelmente são homens, com cargos ditos mais iluminados, músicos, advogados, escritores, cientistas que, apesar de nascidos em Marrocos, têm dificuldade em aceitar o mundo mágico da superstição.

Recordo-me de Fattouma, uma mulher de Tafilelet de pele quase preta. Ela chorava porque, no intuito de impedir que o seu marido se encontrasse com outras mulheres, tinha-se enganado na poção e tornou-o impotente. Uma outra mulher, enlouqueceu o marido e não conseguia encontrar o charlatão que lhe tinha dado as ervas para o marido tomar. Concluí que aquelas que não dizem nada, são aquelas que enganam os maridos e multiplicam os amantes. Aquelas que não ousam pisar o risco da traição choram, queixam-se e tornam-se patéticas.

Numa edição da Cavalo de Ferro estes contos lêem-se de um só fôlego, enquanto devoramos a essência dos personagens aqui recriados com a mestria de Tahar Ben Jelloun.


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